#acessibilidade: A imagem é uma ilustração de 4 cientistas, todas de jaleco e óculos, cada uma falando sobre sua área de atuação. Fonte: Freepik
Texto escrito por Igor Espindola de Almeida
Se você está lendo esse texto, deve ter interesse em ciências. Possivelmente você goste de documentários, livros e podcasts que falem das ciências e, talvez, até produza alguns. Mas com toda essa produção, quem faz divulgação científica às vezes se pergunta, e é bom que o faça, qual impacto estamos gerando na sociedade?
É difícil, senão impossível, responder essa pergunta por completo, mas como tudo nas ciências, podemos ter alguns indicadores de que estamos fazendo um bom trabalho e onde podemos melhorar.
No senso comum, o que se pensa para a avaliação de uma proposta de divulgação científica, geralmente é a realização de alguma entrevista, seja com o público seja com quem produziu a atividade de divulgação. São perguntados sobre o conhecimento ganho, se gostaram da atividade e o que poderia ser melhorado. Mas sendo um pouco mais científico, os pesquisadores da área de comunicação têm trazido atenção para métricas que trazem um componente sobre o impacto do projeto de divulgação.
Quando avaliamos um projeto (blog, revista, canal no youtube, atividades de ciência cidadã…), costumamos dividir os indicadores em dois grupos:
- aqueles relativos ao processo de produção: O que foi preciso para produzir a divulgação? Quanto dinheiro? Quanto tempo? Quantas pessoas? Houve treinamento para quem produziu? Houve participação da sociedade no processo de criação? Foram consideradas metas e indicadores de divulgação científica no planejamento da atividade?
- aqueles sobre o que foi produzido: Quantas atividades e produtos foram desenvolvidos? Em quantas mídias o projeto esteve presente? Qual a periodicidade da atividade? Quais são os valores que o projeto pode proporcionar para a sociedade? Como as ciências foram apresentadas?Qual o alcance geográfico (local, regional, nacional, internacional)?
O impacto da ação de divulgação, por outro lado, pode contar compercepções sobre:
- Participação: Quantos participantes compuseram a audiência? Quais as características do público? Qual a porcentagem do público não acadêmico que teve contato com a atividade?
- Engajamento: O que eles acharam da minha atividade/produto? No caso de ações digitais: Quantos likes? Quantos seguidores? Quantos comentários? Compartilhamentos?
- Reputação: Meu produto foi reconhecido? Ganhou algum prêmio? Foi citado em alguma mídia local, regional, nacional ou internacional?
Ter estas perguntas em mente pode auxiliar na elaboração de projetos de divulgação mais eficientes, bem como contribuir para o entendimento de que a divulgação científica também é uma área de pesquisa e profissionalização. Não só precisamos ter cientistas falando sobre a ciência, mas também pessoas que entendam como divulgá-la. Estratégias que considerem um planejamento de curto, médio e longo prazo são ações eficientes.
Utilizar altimetria como um todo, especialmente aquelas das plataformas como o Google Analytics e a Matomo, sem senso crítico, pode ser problemático. Por exemplo, porque as as principais ferramentas são produzidas no norte global, sendo preciso pensar sobre plataformas com métricas específicas para a realidade brasileira.
Na pesquisa, áreas como a neurociência podem auxiliar a entender qual o impacto cognitivo, emocional e comportamental do produto de divulgação, através de técnicas de rastreamento ocular e medições fisiológicas, no momento em que o indivíduo tem contato com o produto.
Por fim, não vamos parar de divulgar ciência para a sociedade, mas para saber em que pé estamos, se as ações têm sido eficientes, o que funciona ou o que parou de funcionar, precisamos estabelecer métodos de avaliação adequados e a partir deles, metas e formação para gestores e executores das ações de divulgação. A gente quer que o número de divulgadores e de entusiastas da ciência aumente com qualidade.
Outros divulgadores:
Como medimos nosso trabalho de divulgação científica? – Erica Mariosa Carneiro
Divulgação científica, jornalismo científico ou comunicação científica?
Referências:
AGUIAR, Cibele Maria Garcia de et al. Are we on the right path? Insights from Brazilian universities on monitoring and evaluation of Public Communication of Science and Technology in the digital environment. Journal of Science Communication, v. 23, n. 6, p. A01, 2024. Disponível em: https://jcom.sissa.it/article/pubid/JCOM_2306_2024_A01/
BARATA, Germana. Por métricas alternativas mais relevantes para a América Latina. Transinformação, v. 31, p. e190031, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tinf/a/CdfPjsJQGTnSSNwWbCCxL9H/?lang=pt
BEVILAQUA, Diego Vaz et al. Uma análise das ações de divulgação e popularização da ciência na Fundação Oswaldo Cruz. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 28, p. 39-58, 2021.Disponível em: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/dw55VNymM5LzCd6kxrT95Wx/#
FISCHHOFF, Baruch. Evaluating science communication. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 116, n. 16, p. 7670-7675, 2019.
SANTOS, Francielle Franco dos et al. O sistema de recompensa científico e a altmetria: relações entre os indicadores de atenção online e as práticas de comunicação e divulgação científica dos pesquisadores em comunicação no Brasil. Informação & informação. Londrina, PR. Vol. 27, n. 3 (jul./ago. 2022), p. 596-621, 2022. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/47196/48824
VOLK, Sophia Charlotte. Evaluation der Wissenschaftskommunikation: Modelle, Stufen, Methoden. In: Evaluationsmethoden der Wissenschaftskommunikation. Wiesbaden: Springer Fachmedien Wiesbaden, 2023. p. 33-49. Disponível em: https://ouci.dntb.gov.ua/en/works/loEjz6j7/ VOLK, Sophia Charlotte. Assessing the Outputs, Outcomes, and Impacts of Science Communication: A Quantitative Content Analysis of 128 Science Communication Projects. Science Communication, p. 10755470241253858, 2024. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/10755470241253858