#acessibilidade: Imagem de uma enguia elétrica de cor azul acinzentada com fundo de gramas verde escuro.
Texto escrito por Vítor Ribeiro Halfeld
Uma das maiores franquias da cultura pop, o universo de Pokémon tem como protagonista um simpático monstrinho de popularidade mundial. Pikachu esbanja carisma com seu pelo amarelo, sua cauda em forma de raio e bochechas vermelhas de onde saem descargas elétricas poderosas, chamadas de “choque do trovão”. Seja no anime, nos jogos ou nos filmes, o personagem supera adversários muito maiores usando a eletricidade como principal forma de ataque. Talvez você ainda se lembre do nome do seu Pokémon preferido (o meu sempre foi o Bulbasaur!)… Mas, quantos animais elétricos você conhece?
Sim, existem animais de verdade capazes de usar a eletricidade para atacar ou para se defender. Os especialistas na eletrogênese (sim, geração de energia!) são os peixes-elétricos. Esses animais conseguem produzir eletricidade e enviá-la para fora do corpo. Existem bagres, enguias e arraias elétricas. Mas nos rios da Floresta Amazônica você poderia encontrar o campeão mundial! O poraquê é um peixe do gênero Electrophorus (esse seria um nome perfeito para um Pokémon elétrico), que pode atingir até 2,5 metros de comprimento! Algumas espécies de poraquê podem gerar descargas com mais de 850 volts! Nenhum outro peixe elétrico consegue produzir um choque com uma tensão tão alta!
Mas como é possível um animal assumir essa função de taser? Resposta: Esses animais têm células especializadas chamadas de eletrócitos. Os eletrócitos são células que têm sua origem no tecido muscular, e seu funcionamento também é muito parecido com o dos músculos. As células musculares, mesmo as do corpo humano, para realizarem os movimentos de contrair e relaxar, dependem da entrada e saída de íons. Os íons são sais minerais com carga elétrica. Cátions de potássio (K+), sódio (Na+) e cálcio (Ca2+), por exemplo, são íons positivos. Cloreto (Cl–), por sua vez, é um íon negativo. O movimento desses íons entrando e saindo das células gera uma pequena quantidade de eletricidade. Nas células musculares, essa energia é rapidamente transformada. Já nos eletrócitos, a eletricidade é acumulada, como em uma pilha. Várias células dessas funcionando juntas acabam somando uma grande quantidade de energia elétrica. O suficiente para afastar predadores ou paralisar uma presa.
Existem também animais que conseguem detectar campos elétricos. Trata-se de um sexto sentido chamado de eletrorrecepção. Tubarões, botos-cinzas e os ornitorrincos têm órgãos especiais no focinho, os eletrorreceptores. Eles usam essa habilidade para encontrar suas presas, mesmo que elas estejam camufladas ou escondidas nos sedimentos do fundo dos rios, lagos e mares.
E quanto a nós? O corpo humano também seria capaz de produzir eletricidade? Com toda certeza! O funcionamento do corpo humano depende de impulsos elétricos que algumas de nossas células produzem. Todas as nossas funções cerebrais, como memória, raciocínio e coordenação motora, por exemplo, além do funcionamento dos órgãos sensoriais, dependem da produção de pequenos impulsos elétricos nos nossos neurônios. O nosso coração tem seu ritmo de batidas controlado pelo nó sinoatrial, uma pequena estrutura responsável por disparar impulsos elétricos no músculo cardíaco. Apesar disso, disparar a eletricidade produzida, como um Pikachu ou um peixe-elétrico, é impossível para os seres humanos. É uma pena. Seria uma habilidade útil para recarregar o celular!
Diz aí nos comentários, o que mais você faria se pudesse disparar choques com as mãos?
Fontes:
Mori, Letícia. 2019. Reportagem: “Nova espécie de peixe-elétrico descoberta na Amazônia emite 860 volts, descarga mais forte já registrada em animal”. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/geral-49639643 ,
Santana, David et al., 2019. Unexpected species diversity in electric eels with a description of the strongest living bioelectricity generator. Nat Commun 10, 4000 (2019). https://doi.org/10.1038/s41467-019-11690-z .
Fonte da imagem destacada. Animais selvagens utilizam a eletricidade de formas chocantes. FOTO DE GEORGE GRALL / NAT GEO IMAGE COLLECTION. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2021/05/animais-selvagens-utilizam-a-eletricidade-de-formas-chocantes.
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