Dinossauros têm gosto de… frango frito!? (V.8, N.7, P.5, 2025)

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Tempo de leitura: 3 minutos
#acessibilidade: Foto dividida: à esquerda, crânio fossilizado de Tiranossauro rex emergindo do solo, marrom e arenoso; à direita, copo vermelho com frango frito empilhado e a imagem caricata de uma galinha sorridente, simbolizando a conexão evolutiva entre aves e os demais dinossauros. Imagem criada por inteligência artificial (DALL-E), via ChatGPT (OpenAI, 2025).

Texto pelo colaborador Peterson Lasaro Lopes, Professor do Instituto Federal de São Paulo

Você já ouviu dizer que dinossauros têm gosto de frango? Pode parecer brincadeira, mas até cientistas quase entraram em pânico ao descobrir que amostras de DNA de dinossauros que estavam estudando eram extremamente compatíveis… com galinhas! O motivo? Uma simples contaminação com migalhas do almoço — frango frito, no caso. Porém, o susto acabou revelando algo fascinante: as aves modernas são, do ponto de vista evolutivo, não “parentes dos dinossauros”, mas dinossauros vivos — como, aliás, todas as aves!

Pois é: os dinos não estão extintos. E quem já teve pavor de ser devorado por um dinossauro provavelmente nunca parou para pensar em quantos deles já não engoliu — seja como frango frito, faisão defumado ou peru fatiado. Mesmo nas situações mais extremas (como um corvo bicando o olho de alguém imobilizado ou um abutre devorando o fígado de um cadáver aleatório), na interação entre humanos e dinossauros, os primeiros são os verdadeiros bichos-papões dos segundos!

Essa história anedótica me lembrou de uma adaptação que desenvolvi há alguns anos, inspirada numa proposta didática do Museu de Paleontologia da University of California intitulada “What did T. Rex Taste Like?”. Essa atividade, que criei junto às doutoras Sandra Tonidandel e Luciana Ferreira, acabou virando capítulo de livro e até reportagem na revista Nova Escola. Nela, os alunos eram desafiados a resolver um mistério: “Se você comesse um pedaço de tiranossauro, qual seria o sabor?”

Bem… “Para responder a isso”, alguém diria, “é necessária uma análise de DNA”. O problema é que, muitas vezes, cientistas não conseguem acessar o DNA de forma confiável, especialmente de fósseis antigos. Então, como responder a uma questão que depende de inferências sobre parentesco? Nesses casos, resta comparar textura, características morfológicas e dados anatômicos, formulando hipóteses antes de qualquer experiência gastronômica hipotética que poderia confirmá-las ou refutá-las. Com a montagem de cladogramas a partir dessas evidências morfológicas, fica claro que os Tyrannosaurus rex são muito mais aparentados às galinhas atuais do que a répteis como crocodilos. A conclusão é uma nova hipótese, agora mais bem fundamentada: se um bife de tiranossauro fosse servido hoje, ele deveria ter gosto muito semelhante ao do frango.

Além da curiosidade, essa aula mostra como o ensino por investigação transforma conteúdos complexos — como filogenia e evolução — em experiências marcantes e divertidas. E talvez nos faça olhar com outros olhos para o próximo pé de frango frito recheando o sanduíche: um pedacinho de dinossauro que, felizmente, escapou à extinção — mas, infelizmente, não da frigideira.

Para saber mais:

Nova Escola: Novos Olhares Sobre a Origem da Vida

Instagram @itiscolossal — entrevista com Drª Beth Shapiro (Colossal Biosciences)

Evolution Berkeley: What did T. rex taste like?

Lopes PL, ed. Águas Livres: A Biodiversidade no Ensino Básico. Rio de Janeiro: Editora Autografia; 2015.

Valentim P. Novos Olhares sobre a Origem da Vida. Nova Escola. 2014; 275:60-2.

Lopes PL, Ferreira LB, Tonidandel SMR. Consumindo dinossauros. In: Parada EA, Silva MS, Giardino S, Cannatá VM, editors. Dante de Portas Abertas: Relatos de Práticas Exitosas. São Paulo: Yangraf; 2014. p. 118-25.

Tonidandel SMR, Lopes PL, Ferreira LB. Investigação e Conhecimento: 7º ano. São Paulo: Sarandi; 2014. vi + 180 p.

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