#acessibilidade: Retângulo com fundo azul que vai clareando até tornar-se branco da esquerda para direita. Nele encontram-se perfis de vários tipos de insetos, como borboletas, besouros, grilos, formigas e abelhas que se encontram em abundância do lado esquerdo e vão diminuindo em número até sumirem à direita
Quando falamos em insetos, em que grupo de pessoas você está? No que acha lindo e pensa em um louva-a-deus, em um bicho-pau, borboletas coloridas e vagalumes? Ou no que sente um arrepio e pensa naquelas perninhas pontudas, aquelas asas fazendo tec tec na parede? Independente do grupo em que se encontra, já notou que ao viajar de carro há cada vez menos insetos estourados (☹) no para-brisa? O vidro chega praticamente limpo. Não era assim quando eu era criança lá pela década de 80. Precisávamos parar para lavar o para-brisa antes de continuar a viagem. O fato é: os insetos também são um grupo que têm sofrido declínios populacionais importantes. Insetos estão desaparecendo!
Se a essa altura você pensou “Ah, mas e daí?” É compreensível. Tendemos valorizar grupos de animais com os quais nos identificamos e parte dessa identificação está na aparência, no toque e na comunicação. Além disso, é mais comum que tenhamos contato com insetos considerados pragas, como formigas, mosquitos e baratas. Mas a diversidade de insetos é enorme, o grupo inclui animais de diversas formas, cores, tamanhos e funções, somando mais de um milhão de espécies descritas e uma estimativa de cerca de 5 milhões de espécies existentes.
Assim, o fato de insetos também estarem desaparecendo não é nada bom. Já não seria bom somente pelo valor nato, aquele que os insetos têm somente por existirem e por estarem no planeta há cerca de 480 milhões de anos. Nós, Homo sapiens moderno, estamos aqui há cerca de 200 ou 300 mil. Uma espécie com capacidades incríveis de construção e, infelizmente, também de destruição.
Estudos indicam que já perdemos em torno de 250 a 500 mil espécies de insetos. Que 75% da biomassa de insetos voadores foi perdida nos últimos 30 anos (especialmente borboletas, mariposas, libélulas e besouros). Haja chinelada, não? Não! Insetos são afetados pelos mesmos fatores geradores de extinção em outros grupos de organismos: perda, fragmentação e diminuição da qualidade de habitat, alterações climáticas (que altera ciclos biológicos, como borboletas nascerem antes das flores, por exemplo), poluição ambiental (pode ser química como por agrotóxicos, ou luminosa, no caso de luz artificial e insetos noturnos), ocorrência de espécies invasoras (que prejudicam espécies nativas por competição ou predação), sobre-exploração visando alimentação (existem mais de 2 mil espécies comestíveis de insetos) e decoração (borboletas em tampa de vaso sanitário, por exemplo) e coextinção (quando quem some primeiro é o hospedeiro onde o inseto vivia ou a planta da qual se alimentava).
No canto superior esquerdo a imagem de um louva-a-deus verde olhando para o leitor, no canto superior direito a imagem de seis bichos-pau, de diversos tamanhos, em fundo branco, no canto inferior esquerdo a imagem de uma barata-de-Madagascar em fundo branco e no canto inferior direito a imagem de um besouro europeu, preto e com chifre único em vista lateral.
Enquanto muitos insetos desaparecem perdemos tratamentos medicinais em potencial (veja por exemplo, o caso do veneno das vespas indicado na literatura abaixo), novos químicos, controle biológico, alimento em potencial (é, seria necessário vencer alguma resistência pessoal nesse aqui), produtos como mel, cera de abelha e seda, modelos científicos de estudo, recreação e inspiração. Pior do que isso, perdemos serviços ecossistêmicos essenciais realizados por insetos como a decomposição e ciclagem de nutrientes que afetam a estrutura, fertilidade e dinâmica do solo, a polinização e a dispersão de sementes, todos afetando diretamente produtividade agrícola e produção de alimento. Para piorar, insetos são parte importante da biomassa e servem de alimento a muitos outros organismos. O desaparecimento de insetos afeta outros invertebrados e também vertebrados, como peixes, sapos, rãs, pererecas, lagartos, aves e mamíferos. Um efeito cascata de grandes proporções.
A gente não quer isso. Sai mais barato tratar essa fobia, você não acha? Está cada vez mais claro para a ciência e para bons observadores do mundo que a destruição ambiental traz mais mal do que bem para os próprios humanos. Quanto maior a qualidade ambiental, maior a qualidade de vida, maior a disponibilidade de recursos e menos desigual sua distribuição. Que tal apoiar o uso de energia limpa? A agricultura orgânica e familiar? A ciência? A educação? E políticos e políticas públicas que visem conservação ambiental? Faça sua parte. Fazemos a nossa.
Outros divulgadores:
Youth and entomology. Who let the bugs out? Purdue Entomology
Wikitermes. Deu cupim na rede.
Perfíl do twitter: Divulgação científica sobre insetos, Lorenne Almeida, @lorenne_almeida
Fontes:
Imagem destacada: V.K. Verdade & R. Verdade
Imagem 1: Freepik
Abd El-Wahed A, Yosri N, Sakr HH, et al. 2021. Wasp Venom Biochemical Components and Their Potential in Biological Applications and Nanotechnological Interventions. Toxins (Basel);13(3): 206. doi:10.3390/toxins13030206
Cardoso, P. et al. 2020. Scientists’ warning to humanity on insect extinctions. Biological Conservation, 242, 108426
Canal Olá Ciência. Veneno de vespa brasileira teria ação contra o câncer. Como assim? (https://www.youtube.com/watch?v=4JlSPsGdXC0)