#acessibilidade: Imagem de uma panela de teflon de fundo preto, com um ovo frito, a panela esta sob uma tabua de madeira, que por sua vez está sob uma mesa também de madeira, sob a mesma também estão utensílios domésticos e temperos.
Texto escrito por Leonardo Martins Carneiro
Um dos grandes sonhos de consumo de quem aprecia um belo ovo frito, peito de frango, entre outras iguarias preparadas pelo processo de fritura (com um fio de óleo ou azeite, viu?) é uma frigideira antiaderente, com uma camada, normalmente de cor preta, de um polímero chamado teflon (por este motivo esse tipo de utensílio culinário também é chamado de frigideira de teflon).
Mas uma dúvida que pode surgir é (e caso nunca tenha surgido para você, gostaria de colocá-la na sua cabeça neste momento) “Se o teflon é um material antiaderente, ou seja, outras substâncias têm dificuldade de se colarem a ele, como ele é colado na panela? Para responder a esta pergunta, vamos explorar o aspecto da aderência entre os materiais, observando de perto o porquê da baixíssima aderência do teflon. Vamos nessa.
Teflon é o nome comercial. Quimicamente, este polímero se chama politetrafluoretileno (PTFE), ou seja, seu monômero é uma molécula de etileno onde os quatro átomos de hidrogênio são substituídos por átomos de flúor.
Como muitas descobertas na ciência, o PTFE foi sintetizado a primeira vez por engano. Foi no ano de 1938 que Roy J. Plukett, químico da empresa Dupont, trabalhando na descoberta de novos gases refrigerantes atóxicos, identificou algo curioso no seu vaso pressurizado: a pressão no interior do vaso foi a zero e em seu interior havia apenas uma massa branca. Nos primeiros testes de reatividade deste composto, a surpresa foi ainda maior, nenhum outro composto era capaz de reagir ou ao menos aderir àquela massa branca. A partir deste momento estava criado um polímero que seria aplicado desde a vedação de tubos residenciais (sim!! aquela fitinha branca, a veda-rosca, também é feita de teflon!) até a composição dos trajes dos astronautas.
Uma forma de quantificarmos o quanto um material se cola a outro material, e assim comparar essa capacidade entre diferentes materiais, é por meio do coeficiente de atrito. Atrito é aquela força que se opõe ao movimento – lembra daqueles exercícios de física, onde determinamos as forças atuantes em um bloco sobre uma superfície inclinada? Nesse tipo de exercício, a força de atrito é a responsável por manter o bloquinho parado. Outro exemplo clássico, é a atuação do freio sobre o movimento de um carro ou bicicleta, que aumenta a força de atrito por compressão na força bruta.
No mundo macroscópico, nos bloquinhos, pneus e freios, o atrito é causado principalmente por rugosidades na superfície dos materiais, ranhuras e outras deformações da superfície. Por isso, é necessário a troca dos freios periodicamente, tanto de carros como de bicicletas, pois estes vão se desgastando com o tempo. Porém, quando falamos no mundo microscópico, ou ainda menor, do mundo molecular, o atrito vai ser causado pela formação de ligações químicas ou por interações intermoleculares. Assim, um material com muitas possibilidades de interação com um outro material, possuirá um coeficiente de atrito mais elevado quando comparado a um material que possui poucas possibilidades de interação intermolecular.
No caso do PTFE, os átomos de flúor formam algo como uma armadura para os carbonos da cadeia principal deste polímero. Apesar do átomo de flúor ser o mais eletronegativo da tabela periódica, as cadeias de PTFE são apolares, pois as substituições com esse halogênio são simétricas e ocorrem por toda a cadeia, ou seja, as interações intermoleculares com outros compostos são fracas, logo o material é antiaderente. Além disso, seu pequeno raio atômico e a forte ligação química com o carbono, torna o PTFE inerte a reações químicas. Tudo isso justifica o baixo coeficiente de atrito que observamos no PTFE.
Mas, voltemos à nossa dúvida inicial: o motivo de ainda estarmos lendo esse texto. Se o PTFE é extremamente antiaderente, como o “colamos” na panela? Já que suas interações físico-químicas são muito fracas, então, o que nos resta é a interação por atrito mecânico, por meio de rugosidades na superfície, da mesma forma que ocorre o atrito entre os pneus e o freio. Uma das formas de criar essa rugosidade na panela é por meio do jateamento de areia, ou seja, são lançados sobre a superfície da panela (alumínio ou aço) milhares de grãos de areia em altíssima velocidade e, com o impacto, produzidas cavidades microscópicas, onde o PTFE será ancorado e mantido fixo na nossa frigideira. Por isso é preciso cuidado ao usar talheres de metal ao manusear os alimentos! A frigideira de Teflon risca fácil!
Infelizmente, por mais cuidado que se tenha, a camada de PTFE vai sendo retirada com o tempo devido às altas temperaturas e atrito com os alimentos, ou seja, é inevitável que a sua “panela teflon” volte a ser apenas uma “panela” após alguns anos de uso.
Fontes:
Politetrafluoretileno – Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Politetrafluoretileno.
Callister, William D. Fundamentos da ciência e engenharia de materiais: uma abordagem integrada. LTC, 2006.
Para saber mais:
Teflon: o material que pode ser encontrado em panelas e aeronaves; Revista Galileu. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2017/08/teflon-o-material-que-pode-ser-encontrado-em-panelas-e-aeronaves.html.
Outros divulgadores:
Por que nada adere ao teflon? – canal youtube TED ed. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uXaP43Zbz7U&t=186s.
Os VERDADEIROS MALEFÍCIOS DO TEFLON – Canal Youtube: Olá, Ciência! Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=4NtJNiPoctQ.
1 thought on “Se nada cola na panela de Teflon, como o Teflon é colado na panela? (V.6, N.12, P.3, 2023)”