Plástico: para sempre teu (V.2, N.10, P.3, 2019)

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Tempo de leitura: 5 minutos
#acessibilidade Rosto de um homem com olhos fechados, sobrancelhas arqueadas, testa levemente franzida e a boca semi-aberta, tentando respirar dentro de um saco plástico transparente.

Pode parecer um tanto assustador começar um texto com uma imagem apelativa e certamente dramática como esta, mas é pra assustar mesmo o assunto de hoje assim o exige. Porém, para darmos uma amenizada vamos começar com uma história mais leve.

O ano é 1990, é manhã de natal, e na sala, os pacotes com seus belos embrulhos, fitas e cores esperam para serem abertos. As crianças acordam, se levantam, guiados pela ansiedade a uma direção certa: as caixas de presente. E ao fundo toca a música do comercial da Coca-Cola (o natal vem vindo, vem vindo o natal ♫). Ao abrir o primeiro pacote, um cheiro inconfundível se espalha no ar, é mais uma daquelas sandálias e sapatilhas de plásticos, que toda menina naquela época desejava, para combinar com suas meias coloridas. No segundo pacote, um pouco maior e com formato esquisito, que lembra um disco-voador (ou pelo menos, as representações que se fazem de um), está um brinquedo também muito cobiçado, o Pogobol. No terceiro pacote, a sonhada Casa da Barbie. Nos pacotes seguintes, vieram as action figures (bonequinhos, em bom português) dos Power Rangers, dos Cavaleiros do Zodíaco, a Boneca da Xuxa e até o assustador Fofão.

Se você não vivenciou a década de 90 (eu lamento por você), talvez não faça ideia do que são essas referências, afinal de contas já se passaram quase 30 anos e até os que eram crianças nessa época podem ter esquecido que alguns desses itens muito provavelmente fizeram parte de sua infância. No entanto, embora ninguém quase ninguém mais use meias com sandálias e você não tenha ideia de que fim levou suas melissas ou seu Pogobol, você sabia que eles ainda estão por aí em algum lugar? E não são só eles, a mamadeira que você usou, a banheira em que você tomou seu primeiro banho, a primeira escova de dentes do seu pai, as fraldas do seu filho (se você tiver um, ou dois, ou três, ou trinta e dois, como o Mr. Catra) e até mesmo o penico da sua avó também está por aí.

Eu sei que você pode pensar: “Imagina! Está louca, mulher?! Já jogamos fora há anos.” E neste momento eu trago uma verdade cruel e reveladora: não existe “jogar fora”. Quando descartamos algo no lixo, só significa que tiramos da nossa casa, não significa que o planeta se livrou daquele objeto inconveniente que foi descartado. Muitas vezes ele só passou a incomodar em outro lugar… esse é o caso do plástico. Um copinho de plástico “descartável” leva de 200 a 450 anos para se decompor, uma garrafa plástica leva mais de 100 anos e os saquinhos plásticos iguais ao que está sufocando o cara da foto, levam de 30 a 40 anos até sua total decomposição. Os pneus têm um tempo indeterminado, mas estima-se que seja superior a 500 anos.

Se você já leu ou ouviu sobre isso em algum outro momento e está por dentro dos paranauês, você pode pensar “Ah! Mas o vidro também leva mais de 500 anos para se decompor, as latinhas de metal de 100 à 500 anos, isso a Globo não mostra! e ninguém demoniza o vidro ou o metal!”. Aqui chegamos num ponto crucial dessa conversa: o vidro é inerte, ou seja, não reage, ele não interfere no nosso metabolismo levando à disfunções hormonais, caso entre em nossa teia alimentar, como é o caso do plástico. Ainda assim, o vidro não deve ser consumido por outra razão óbvia: ele corta! Mas seu uso em embalagens é fortemente recomendado, embora não seja tão competitivo frente ao plástico, por um outro motivo igualmente óbvio: ele quebra! E também por um outro motivo nada óbvio: a produção de plásticos é extremamente barata comparada com outros materiais. Tanto que é economicamente mais viável produzir um novo plástico do que reciclar um.

A verdadeira revolução das embalagens plásticas veio em 1909, com a síntese da baquelite, o primeiro plástico totalmente sintético e comercialmente viável. A grande sacada desse novo processo foi a polimerização, que é a combinação sistemática e ordenada de várias unidades de moléculas iguais (os monômeros) para gerar uma grande molécula (o polímero, que dá origem ao nome desse processo). A união dessas moléculas fornece ao material diversas propriedades interessantes. Alguns polímeros tem como característica a flexibilidade, como é visto em isopores, elásticos e borrachas, e outras podem possuir uma grande resistência mecânica, como as tampinhas de garrafas PET, os canos e as pás dos ventiladores.

Os plásticos, ou polímeros sintéticos, como também podem ser chamados, são classificados de acordo com o tipo de síntese que origina cada um deles. No entanto, eles também podem ser classificados quanto às suas propriedades. Desse modo, ao avaliar a sua rigidez eles são divididos em termoplásticos, termofixos e elastômeros. Os termoplásticos são aqueles que em altas temperaturas podem ser facilmente moldados (como as garrafas PET), os termofixos não podem ser amolecidos com aquecimento (como as resinas) e os elastômeros, por fim, possuem grande elasticidade (como as borrachas).

Eles têm em comum sua maior qualidade e também seu maior defeito: a durabilidade. Se por um lado os plásticos caíram no gosto do consumidor por conta da sua longa duração, por esse mesmo motivo os plásticos persistem no ambiente por centenas e até milhares de anos, causando vários danos ao meio ambiente. Estima-se que em 2050 haverá mais plástico do que vida marinha nos oceanos. Em algumas regiões do planeta são encontradas toneladas de lixo flutuando pelos mares, são as chamadas ilhas de plástico ou ilhas de lixo. Além dos riscos de contaminação inerente, o recobrimento dessas superfícies impede a absorção da luz solar pelas algas marinhas afetando a teia alimentar de várias espécies. A decomposição desses materiais leva a formação de microplásticos que são extremamente danosos para a vida animal. Os microplásticos entram no nosso organismo pelo consumo de frutos do mar, pelo sal de cozinha e até mesmo pelo ar. Você pode saber um pouco mais sobre compostos orgânicos persistes clicando aqui.

O que podemos concluir é o que muitos já sabem, os plásticos são extremamente úteis, mas precisam ser utilizados com moderação, seu consumo exacerbado colocou o planeta diante de uma grande crise ambiental, com inúmeras consequências à saúde dos animais (e isso inclui os humanos). Hoje há imagens de tartarugas, peixes, pássaros e diversas outras espécies que vemos sendo sufocadas devido a presença de plásticos nos mares, mas é essencial reconhecermos que a longo prazo isso também atinge à nós, seres humanos. E se a foto de uma tartaruga ingerindo uma sacola plástica não nos afeta mais, quem sabe o ensaio do fotógrafo Rúben Caeiro nos ajude a refletir sobre nossos hábitos e repensar nosso consumo de plásticos em nossas atividades cotidianas.

Fontes:

Fonte da imagem destacada: Rúben Caeiro

https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/acompanhando-decomposicao-materiais.htm

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/12/28/Por-que-a-capacidade-de-produ%C3%A7%C3%A3o-de-pl%C3%A1stico-barato-est%C3%A1-aumentando

http://www.abre.org.br/wp-content/uploads/2012/07/cartilha_meio_ambiente.pdf

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-41853621

http://www.usinaciencia.ufal.br/multimidia/livros-digitais-cadernos-tematicos/Plasticos_caracteristicas_usos_producao_e_impactos_ambientais.pdf

http://www.setorreciclagem.com.br/3rs/qual-o-tempo-de-decomposicao-dos-materiais/

Vídeo bakelite do canal skelbowvideos no YouTube

https://www.nationalgeographicbrasil.com/planeta-ou-plastico/2018/10/microplasticos-encontrados-em-90-por-cento-do-sal-de-cozinha

Outros divulgadores:

Vídeo GREG NEWS com Gregório Duvivier | PLÁSTICO do canal HBO Brasil no YouTube

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