#acessibilidade: A imagem é uma ilustração estilizada de um mosquito picando a pele. Fonte: Freepik
Texto por Vanessa Verdade e Márcia Sperança
Você já ouviu falar em arboviroses? Quando ouvia esse nome, costumava associar com árvores…seriam vírus de árvore? Não! Nada a ver com árvores! Mas tem a ver com vírus. O nome é uma composição do inglês Arthropod+borne+virus. Traduzindo, vírus que vem de artrópodes, e que causam doenças em vertebrados. Artrópodes são animais invertebrados com patas articuladas. No caso das arboviroses, os vírus são principalmente transmitidos por mosquitos, mas podem ser transmitidos também por carrapatos.
Algumas doenças muito conhecidas são causadas por arboviroses, por exemplo a febre amarela, a zika, a chikungunya e a dengue. Essas doenças são causadas por vírus que, por assim dizer, pegam carona em mosquitos para chegar de um hospedeiro a outro. Mosquitos de espécies diferentes podem transmitir o mesmo vírus e alguns mosquitos podem transmitir mais de um tipo de vírus. O Aedes aegypti por exemplo, conhecido como mosquito da dengue, pode transmitir dengue, mas também zika, chikungunya e febre amarela. Muito versátil para nossa infelicidade, pois é um mosquito frequente em áreas urbanas, densamente povoadas, aumentando o potencial de surtos.
Assim sendo, em se tratando de arboviroses, podemos controlar as infestações em duas frentes. Uma que controla o artrópode transmissor e outra que controla o vírus que causa a doença. Se a população de mosquitos Aedes aegypti diminuir, por exemplo, o número de pessoas com dengue, zika, chikungunya, e febre amarela, diminui também. Se o número de pessoas contaminadas diminuir, diminui o número de mosquitos contaminados e o número de doentes também diminui. Para ficar doente, a pessoa precisa ser picada por um mosquito contaminado. Ou seja, que tenha picado alguém doente e ao sugar seu sangue, tenha ingerido também partículas virais. Se o mosquito estiver livre do vírus, a picada não gera a doença. Importante também lembrar que o mosquito, ao se infectar durante a picada, precisa de um período de 3 a 5 dias para ser capaz de transmitir o vírus para outra pessoa.
Não é à toa que o número de casos de arboviroses aumenta no verão. No verão ocorre o pico reprodutivo dos mosquitos, as pessoas saem mais ou deixam suas casas mais abertas e usam menos roupa. Aumenta a chance de contato das pessoas com os mosquitos. As fêmeas estão prontas para acasalar e botar seus ovos e para isso precisam de muita energia. Ingerir sangue é fundamental. Os ovos são depositados na água e as chuvas (e às vezes nossos maus hábitos) provêm as poças que elas precisam. Ou seja, mais mosquitos e maiores chances de transmissão de arboviroses.
Ao picar um hospedeiro, a fêmea introduz sua probóscide (órgão que parece uma agulha), injeta substância anticoagulante e então passa a sugar o sangue. Se estiver contaminada, as partículas virais entram no hospedeiro com a injeção de anticoagulantes. Se quem estiver contaminada for a pessoa, ao sugar o sangue, a fêmea do mosquito ingere os vírus que passam pelo sistema digestivo, se multiplicam no intestino médio, e se disseminam para órgãos secundários do inseto como o ovário, o sistema nervoso e as glândulas salivares. Esse processo dura de 3 a 7 dias e as fêmeas que sobrevivem à infecção, passam a transmitir o vírus. Pior, os mosquitos que nascem dos ovos de fêmeas infectadas, são também infectados. As fêmeas infectadas não descarregam toda a carga viral no hospedeiro, assim, podem transmitir o vírus por longos períodos.
Para evitar os mosquitos, estamos cansados de saber que é necessário passar repelente e evitar criadouros, não deixando água parada e descoberta. Os doentes também devem usar repelentes e ser isolados dos mosquitos usando redes, por exemplo, para evitar que novos mosquitos sejam contaminados. Várias prefeituras também passam com o conhecido fumacê, que espalha inseticida pelas ruas, na tentativa de eliminar mosquitos. Os ovos de Ae. aegypti sobrevivem até mais de um ano no ambiente. Outras estratégias mais elaboradas envolvem a manipulação de mosquitos por irradiação e liberação de machos estéreis, que vão competir pelas fêmeas, acasalar, mas após o acasalamento, não darão origem a novos mosquitos. A maior dificuldade com esse método é obter mosquitos estéreis que de fato acasalem com as fêmeas, que acabam, muitas vezes, preferindo os machos não irradiados.
Já a frente de batalha focada em evitar os vírus, depende diretamente de vacinas. Pessoas imunizadas não desenvolvem as doenças e não contaminam os mosquitos. Mas o desenvolvimento de vacinas para cada uma dessas arboviroses tem complexidades específicas. Vamos falar de duas dessas vacinas em dois textos que seguirão: vacina contra a dengue e vacina contra a febre amarela. Aguardem!
Fontes:
Agência Brasil de Informação: https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2012-07-31/pesquisa-da-usp-usa-radiacao-para-deixar-mosquito-da-dengue-esteril
Bellini R, Medici A, Puggioli A, Balestrino F, Carrieri M. Pilot field trials with Aedes albopictus irradiated sterile males in Italian urban areas . J Med Entomol. 2013;50:317-25.
Fundação Oswaldo Cruz: https://www.ioc.fiocruz.br/en/noticias/nova-evidencia-sobre-alta-resistencia-dos-ovos-do-aedes-aegypti-desidratacao (publicado em: https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0006063)
Vídeo com reportagem: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/24607
Ministério da Saúde: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/arboviroses
Muito bom.