Gaze para que? A tilápia pode resolver por uma “peixeincha”! (V.8, N.4, P.1, 2025)

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Tempo de leitura: 4 minutos
#acessibilidade Peixe voltado para a direita, de coloração cinza, com nadadeiras dorsal, caudal e anal listradas com faixas mais claras. Nadadeira peitoral com a base rosada. Água transparente, aparentando estar dentro de um aquário com o fundo de pedrinhas. (Fonte: Wikipedia)

Texto pelo colaborador Igor Ribeiro

Quando pensamos em tratamentos para queimaduras, a primeira imagem que vem à cabeça são pomadas, gazes e enxertos de pele humana. No entanto, uma solução inovadora e surpreendente tem se destacado na medicina: o uso da pele de tilápia (Oreochromis niloticus) para acelerar a cicatrização de queimaduras. Isso mesmo, não é história de pescador, aquele peixe comum, cultivado no Brasil, pode ser a chave para uma recuperação mais rápida e menos dolorosa.

De acordo com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), o uso da pele de tilápia pode reduzir os custos de recuperação em até 40% quando comparado aos métodos convencionais. Aparentemente, outros peixes podem ter peles com propriedades similares, mas trabalhar com tilápias gera uma economia especialmente relevante no Brasil, um dos maiores produtores de tilápia do mundo, onde grandes quantidades de pele desse peixe são descartadas como resíduo. Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) identificaram um enorme potencial terapêutico nesse material. Estudos demonstram que a pele de tilápia é rica em colágeno tipo I, uma proteína fundamental para a regeneração da pele humana. Além disso, sua alta resistência mecânica e capacidade de retenção de umidade criam um ambiente propício para a cicatrização, tornando-a uma alternativa eficaz e inovadora no tratamento de queimaduras. 

A aplicação da pele de tilápia requer um processo rigoroso de limpeza e esterilização do material para garantir sua segurança. Primeiramente, a pele passa por um processo de descontaminação em que é submetida a uma solução antisséptica para eliminar bactérias e fungos. Em seguida, ela é tratada com radiação gama para garantir a esterilização completa e armazenada em condições controladas para manter suas propriedades biológicas. Esse protocolo assegura que o material esteja livre de patógenos e pronto para ser utilizado nos pacientes sem risco de causar infecções.

Uma vez preparada, a pele é aplicada diretamente sobre a queimadura. Diferentemente dos curativos tradicionais, que precisam ser trocados frequentemente, a pele de tilápia pode permanecer sobre a lesão por períodos mais longos, variando de dias a semanas. Isso reduz a necessidade de trocas constantes e proporciona alívio significativo da dor, uma vez que o processo de remoção dos curativos tradicionais pode ser muito doloroso.

Além disso, a pele de tilápia funciona como uma barreira biológica que previne infecções e mantém a umidade na área afetada. A retenção de umidade é um fator fundamental para a cicatrização, porque evita o ressecamento da ferida, que poderia dificultar a regeneração celular. Isso favorece um ambiente propício para a formação de novos tecidos e acelera o processo de cicatrização. 

As vantagens da pele de tilápia vão além da cicatrização acelerada, pois suas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias naturais reduzem a dor e o desconforto durante a recuperação. Além disso, sua abundância no Brasil torna essa alternativa mais acessível em comparação aos enxertos de pele humana ou curativos sintéticos.

Diante desses benefícios, os pesquisadores têm expandido seus estudos para verificar se a pele de tilápia pode ser utilizada em outras condições médicas. Atualmente, investiga-se sua aplicação no tratamento de ulcerações na pele, uma complicação que afeta pacientes com diabetes, por exemplo. A pele de tilápia pode oferecer uma solução eficaz para a regeneração destes tecidos e prevenir condições mais graves. Outros estudos exploram seu uso em cirurgias reconstrutivas, em que sua riqueza em colágeno poderia auxiliar na reparação de tecidos e minimizar cicatrizes.

A inovação do uso da pele de tilápia no tratamento de queimaduras e outras condições representa um marco para a biomedicina e a sustentabilidade. Ao se transformar de resíduo da piscicultura a um recurso valioso para a saúde, a pele de tilápia destaca a importância da pesquisa científica e do aproveitamento inteligente dos recursos naturais. Além de acelerar a recuperação e reduzir a dor dos pacientes, essa técnica sustentável e acessível reforça como a ciência pode encontrar soluções brilhantes nos lugares mais inesperados. Com pesquisas em andamento para expandir seu uso, a pele de tilápia deixa de ser apenas um subproduto da pesca e se torna uma promessa real para a medicina regenerativa. Depois de saber disso tudo você também ficou com cara de peixe ou fui só eu?

Fontes: 

ALVES, A. P. N. N. et al. Avaliação microscópica, estudo histoquímico e análise de propriedades tensiométricas da pele de tilápia do Nilo. Revista Brasileira de Queimaduras, v. 14, n. 3, p. 203-210, 2015.

LIMA JÚNIOR, E. M. et al. Uso da pele de tilápia (Oreochromis niloticus), como curativo biológico oclusivo, no tratamento de queimaduras. Revista Brasileira de Queimaduras, v. 16, n. 1, p. 10-17, 2017.

LIMA JÚNIOR, E. M. et al. Tratamento de queimaduras de segundo grau profundo em abdômen, coxas e genitália: uso da pele de tilápia como um xenoenxerto. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 35, n. 2, p. 243-248, 2020.

MIRANDA, M. J. B. de. Estudo comparativo entre xenoenxerto (pele da tilápia-do-nilo) e hidrofibra com prata no tratamento das queimaduras de II grau em adultos. Dissertação (Mestrado em Cirurgia) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2018.

TORRISI, M. B. et al. Pele da tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) como curativo biológico no tratamento de queimaduras: relato de caso. Revista Brasileira de Queimaduras, v. 17, n. 1, p. 46-50, 2018.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC). Pesquisas da UFC são destaque na I Feira do Conhecimento, encerrada no domingo (29). Disponível em: https://www.ufc.br/noticias/noticias-de-2017/10437-pesquisas-da-ufc-sao-destaque-na-i-feira-do-conhecimento-encerrada-no-domingo-29.

Para saber mais: 

Repositório UFC – Trabalhos sobre pele de tilápia

Revista Brasileira de Queimaduras

Outros divulgadores:

https://www.youtube.com/@UFCTVce/videos

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