#acessibilidade Imagem de satélite mostrando áreas de floresta em verde, recortadas por áreas geométricas de cor marrom que indicam atividade humana e desmatamento.
Texto escrito pela colaboradora Vanessa Verdade
A COP 30 está em plena ação em Belém e uma das primeiras notícias veiculadas em relação ao protagonismo do Brasil no encontro com os líderes mundiais foi a criação do Fundo Florestas Tropicais para sempre, TFFF na sigla em inglês. Você pode estar se perguntando: por que florestas tropicais são tão importantes para o enfrentamento da crise climática global? Que sejam importantes para a preservação da biodiversidade, faz sentido, pois são nas florestas tropicais das Américas Central e do Sul, da África e do Sudeste da Ásia que encontramos grande parte das espécies de plantas e animais do mundo; mas o que têm a ver com alterações climáticas?
Bom, vamos lembrar que as alterações climáticas que enfrentamos atualmente são resultado do acúmulo excessivo, especialmente, de gás carbônico (CO2) e de metano (CH4) na atmosfera. O acúmulo desses gases leva ao agravamento do efeito estufa, que faz com que a dispersão de calor na atmosfera seja mais lenta, ocasionando aumento da temperatura média do ar e da superfície dos oceanos no planeta. A variação na temperatura afeta as taxas de evaporação e a circulação de ar, o que afeta diretamente o clima, já que ventos frios ou quentes e a umidade que carregam passam a circular de maneira diferente do usual. O que era padrão sofre mudanças e eventos extremos passam a ser mais frequentes, como secas prolongadas e chuvas intensas e pontuais.
Se o acúmulo excessivo de carbono na atmosfera é o combustível para eventos climáticos extremos, fica evidente que o enfrentamento às alterações climáticas deve considerar a interrupção de tal acúmulo. O desmatamento e incêndios florestais têm efeito contrário e liberam grandes quantidades de carbono, já que a maior parte da biomassa florestal se constitui justamente desse elemento. Essa já deveria ser justificativa suficiente para a preservação de florestas tropicais. Mas a importância das florestas vai além.
Florestas são formadas por árvores, que através da fotossíntese, capturam carbono. Na fotossíntese o carbono e a água, na presença de luz, são transformados em oxigênio e glicose. Sim, a mesma medida no seu exame de sangue. Assim como nós, as árvores utilizam oxigênio para quebrar a glicose e obter energia química através da respiração, mas o balanço positivo entre fotossíntese e respiração faz com que cresçam e sejam grandes reservatórios naturais de carbono (que é o principal elemento constituinte do corpo dos seres vivos na Terra). Assim, o reflorestamento e a expansão das florestas tropicais é um dos caminhos para solução da crise climática. A ideia é transferir o máximo possível de gás carbônico da atmosfera para árvores, transformando-o em biomassa vegetal.
Não bastasse seu papel em relação ao acúmulo de carbono, florestas tropicais são grandes responsáveis pela resiliência climática, mantendo a umidade do ar e temperaturas na altura do solo mais baixas. Também são barreiras naturais que diminuem a velocidade dos ventos e protegem o solo de chuvas muito intensas, evitando tornados e erosão.
A umidade que evapora das folhas, através da evapotranspiração, devolve a água retirada dos lençóis freáticos à atmosfera, dando continuidade ao ciclo hidrológico. Uma perda de 10% a 40% de área de floresta tropical já pode afetar o ciclo e levar árvores a estresse hídrico e diminuição da capacidade de retenção de carbono da atmosfera. Esse é um ciclo perverso, pois estações secas prolongadas aumentam a mortalidade das árvores mais antigas e os troncos mortos, aliados à seca prolongada, aumentam o risco de incêndio. Incêndios devolvem quantidades enormes de carbono à atmosfera e reduzem a floresta ainda mais. A diminuição da qualidade do hábitat e a morte de animais também prejudica a floresta, já que a dispersão de sementes de cerca de 90% das árvores da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica acontece através de aves e mamíferos de pequeno e médio porte. Em muitos casos, essas sementes só germinam após serem manipuladas ou passarem pelo trato digestivo desses animais. O sistema todo depende de um equilíbrio intrincado entre clima e organismos para se manter.
Embora as consequências das alterações climáticas estejam presentes em nosso dia-a-dia, e haja sofrimento e desgaste econômico, é comum que sejam observadas como eventos naturais, ocasionais e que, portanto, não há nada a ser feito. Embora de fato ninguém seja capaz de controlar o clima, é importante ter consciência de que o que estamos vivendo hoje é consequência das escolhas de uso de recursos e do solo que fizemos no passado. Existem escolhas melhores e piores. O que você, eu, nós, podemos fazer? Ter atitudes diárias condizentes com as melhores escolhas, comprar produtos e utilizar serviços de empresas que fazem boas escolhas, apoiar iniciativas que caminham no sentido de diminuir o impacto humano sobre o meio ambiente, e, especialmente, votar em lideranças que estejam preocupadas e trabalhando para diminuir e reverter o impacto do aquecimento global. Esse é o único planeta que temos. Fugir não é opção. Ignorar não nos salvará.
Fontes:
Declínio de animais dispersores de sementes dificulta combate às mudanças climáticas
Secas mais frequentes e intensas reduzem capacidade da Amazônia de recircular água e estocar carbono
Franco et al. 2025. How climate change and deforestation interact in the transformation of the Amazon rainforest. Nature Communication 16. https://doi.org/10.1038/s41467-025-63156-0
Fricke et al 2025. Drivers and impacts of global seed disperser decline. Nature Reviews, Biodiversity 1, 386–400. https://doi.org/10.1038/s44358-025-00053-w
Imagem destacada: Desmatamento em Rondônia https://pt.wikipedia.org/wiki/Desmatamento_da_Floresta_Amaz%C3%B4nica
Para saber mais:
Carlos Nobre no Roda Viva: https://www.youtube.com/watch?v=wa8WRrVBlEQ



